Olá a todos!
Como anunciei dias atrás quero escrever um pouco sobre as matérias publicadas pela chamada “imprensa especializada” sobre a Citycom 300i e, aproveitando a ocasião, deixar no ar algumas críticas e sugestões a respeito desses meios de informação que em alguns casos parecem mais desinformar o leitor. Espero que estejam preparados para ler um bocado, pois a postagem de hoje é bem extensa. Vamos lá...
Mesmo conhecendo o produto na Itália desde 2008, a minha natureza de consumidor consciente e precavido me levou a realizar uma pesquisa aprofundada sobre como o Citycom chegou ao Brasil, como e onde é montado, qual a confiabilidade do fornecedor taiwanense SYM (ou SanYang Motors) e quão duradoura será sua parceria com a Dafra, sobre a capilaridade da rede de lojas e oficinas Dafra na região onde moro, estoque e prazos de entrega de peças de reposição e outros detalhes – fatores, esses, sobre os quais já falei em postagens anteriores.
A questão é que por ter sido um dos primeiros a comprar o recém lançado scooter Dafra, na época ainda não encontrei informações coerentes, e sim muitos boatos, “parece que...”, muita bobagem em comunidades, blogs e fóruns baseados no “achismo” e em “papos-de-mané” (aliás, esse foi um dos motivos que me levaram a criar esse blog), muito pouco de tecnicamente fundado e muitos “ouvi dizer...”.
Desde então a imprensa começou a dedicar mais atenção ao Citycom e, mesmo já tendo o meu na garagem, comecei a comprar todas as revistas que via em que saísse alguma matéria sobre o scooter – algumas inclusive indicadas pelos leitores desse blog – e a garimpar sites focados em motos que falassem dele.
Cabe aqui uma premissa importante: gosto de ler e adoro carros e motos, então ler sobre esses assuntos é um dos meus passatempos favoritos. E não falo de “dar uma lida por cima”, mas de ler cada linha com atenção, comparar informações, tentar entender pontos de vista e tirar minhas próprias conclusões.
Toda essa leitura me fez enxergar claramente algumas questões: a primeira é que o bom velho “Ctrl C / Ctrl V” corre solto na web, pois encontrei dezenas de sites com conteúdo idêntico até nas vírgulas e nos erros de português (inclusive trechos desse blog); a segunda é que tem muita gente por aí desinformando as pessoas expressando opiniões sobre um produto que não conhece e nunca viu de perto (achei um cara falando que o Citycom é “o novo scooter chinês da Dafra”... chinês... agora Taiwan se mudou pra China...); a terceira é que a “politicagem” que está por trás de testes e comparativos é tão grande que impede que revistas e sites digam as coisas como realmente são e acabam trazendo pontos de vista nem sempre imparciais como deveriam; a quarta é que, a meu ver, a imprensa especializada sobre motos no Brasil se resume a um site e umas duas revistas nem tão conhecidas por não cederem às chantagens e aos “acordos” propostos por fabricantes e montadoras na hora de ceder seus veículos para testes e comparativos. Exemplo disso - em campo automobilístico - é o excelente site BestCarWebSite (bcws.com.br), cujo editor Fabrício Samahá já relatou diversas vezes não ter sido convidado em lançamentos de veículos por escrever todas as verdades de forma objetiva e imparcial (veja o editorial publicado em ocasião do lançamento do novo celta em 29 de junho de 2002).
Mas venhamos ao caso Citycom.
A primeira reportagem que li foi um teste completo realizado em 2008 pela revista italiana In Sella - que disponibilizei para download na postagem do dia 11 de novembro de 2010 -. Trata-se de uma revista para leigos, pouco técnica - mas também não tendenciosa - que leio desde 2002 e da qual conservo diversos exemplares. Naquelas circunstâncias o scooter se saiu muito bem e as medições realizadas com equipamentos de precisão apontaram velocidade final de 133 km/h, aceleração 0-100 em 15”, potência na roda de 12,87 cv e peso real de 169,5 kg. Só que se tratava da versão européia, praticamente idêntica na mecânica e um pouco inferior no acabamento (por exemplo, ela não tem os apoios para pés do passageiro retráteis como a brasileira e os retrovisores são comuns, com haste de ferro como nas GCs).
Depois li um teste completo realizado pela publicação brasileira A revista da Moto - M! (que até então não conhecia) em outubro de 2010 e fiquei satisfeito em ver que os valores aferidos estavam muito próximos da revista italiana: máxima de 132 km/h, 0-100 em 15,5” e peso real de 168kg.
Então começou a bagunça: páginas de revistas escaneadas e publicadas em blogs e comunidades na internet traziam testes que falavam em aceleração 0-100 em quase 20”, final de 118 por hora, procedência chinês, carenagens mal fixadas “parecendo modelo de pré-série” (alguns leitores desse blog também leram isso e me perguntaram a respeito). Estranho não? Porque denegrir tanto um produto novo? Como foram obtidos esses valores? De onde vinha a moto testada? ...
Em novembro/2010 A revista da Moto - M! realizou um bom comparativo do Citycom 300 com o Burgman 400, esclarecedor no sentido de fazer o consumidor perceber o bom custo-benefício do scooter Dafra que oferece quase o mesmo por menos da metade do preço.
Já em dezembro me deparei com duas matérias: uma muito boa do site motonline.com.br (que divulguei nesse blog) realizada com grande competência e imparcialidade pelo mestre Carlos Bitenca (um daqueles que não se deixa comprar...); outra foi um comparativo intrigante entre Fazer 250 e Citycom 300 na edição de dezembro/2010 da revista Duas Rodas, que tinha tudo pra ser interessante, pois serviria para todos aqueles que ainda estão indecisos entre moto e scooter.
Porque escrevi que “tinha tudo pra ser interessante”? Porque, a meu ver, a tal “politicagem” atrapalhou... e muito. Em certos trechos parece até que quem escreveu a matéria queria elogiar muito o scooter, mas teve seu entusiasmo “freado” pela “politicagem”. Daí a busca por pretextos para dar o que criticar, como esse trecho: “[...] o Citycom traz dois instrumentos curiosos, sendo que um deles é completamente sem função no scooter, o conta-giros.”. Ora, ora... sem função? Tudo bem que o câmbio é automático e não se corre o risco passar do ponto, mas e a faixa de rotação para obter-se o torque máximo? O Citycom tem seu pique de torque (momento em que o motor expressa sua força motriz máxima) a 5.500 rpm, o que significa que mantendo o motor nessa rotação a força de deslocamento é a máxima possível e o consumo mais baixo do que com maior regime de rotação – cuidado para não confundir “torque” com “potência”, falarei disso na próxima postagem –. Isso quer dizer que se quisermos pilotar visando gastar menos combustível e sem buscar a velocidade máxima mas com força suficiente basta dosar o acelerador de modo a manter o giro do motor perto das 5.500 rpm. Essa é a função do conta-giros. Além do mais, se fosse realmente inútil porque a quase totalidade dos carros com câmbio automático o traz? Seria só para enfeitar o painel de Civic, Hilux, C4, Corolla, Linea, etc.? Até carros populares como Palio e Gol em suas versões com câmbios robotizados trazem conta-giros... e olha que nesses casos a contenção de custos é lei!
Na aceleração 0-100 a Duas Rodas foi honesta (15”), mesmo porque a Fazer com seus quse 35kg a menos ganhou fácil (13,2”), mas esqueceu de mencionar um detalhe: os 15” do Citycom estão ao alcance de qualquer um que sentar, der partida e acelerar fundo, já que a transmissão CVT cuida de tudo. Já para obter os 13,2” da Fazer é preciso ter certa malícia com câmbio, entrar em sintonia com o motor, sentir o ponto certo par subir de marcha, saber até onde ir com os giros... Em fim, tem que saber conduzir a moto, o que para um piloto de teste é “moleza”, mas para os “comuns mortais” nem sempre - prova disso as Fazers que deixei para trás nos semáforos por inexperiência de quem as pilotava -.
Na velocidade máxima a “politicagem” apareceu com tudo: a Duas Rodas deu empate de 123 km/h, indo contra as medições das outras revistas. Agora, quem entende de verdade de moto sabe que velocidade final diz muito pouco (ou nada) sobre o comportamento da moto e sua agilidade, mas é inegável que do ponto de vista do marketing é um argumento de venda e tanto,e o pessoal da imprensa sabe disso – não é à toa que a maioria das pessoas vê esse fator como determinante na escolha da moto (ou scooter) que irá comprar e que “quanto pega de final?” é a pergunta que mais ouço –.
Para fechar, aquilo que achei a pérola do comparativo: diz a revista que “[...] o problema é apoiar os dois pés no chão”, mostrando uma foto de um piloto sentado no scooter com as pernas completamente abertas ao lado de outro sentado na Fazer em posição normal (veja foto).
Pelo amor de Deus! Eu não paro desse jeito no Citycom!
Bom, eu meço modestos 1,76m, peso 96kg e garanto que não tenho problema nenhum em apoiar os dois pés no chão nem preciso sentar de pernas abertas para conseguir. Eu sei, scooter tem plataforma e moto não tem, mas a largura não é tanta assim; e mais: não sei se isso é um vício só meu, mas quando paro não costumo apoiar os dois pés, mas um só (geralmente o direito)...
Faço questão de ressaltar que o objetivo dessa postagem não é detonar essa ou aquela revista e elogiar outra, mas deixar claro que para se ter informações sobre qualquer coisa (scooter, moto, carro ou qualquer outro produto ou serviço) não podemos confiar cegamente em tudo que uma fonte diz, mas é preciso pesquisar, provar, se informar de verdade, pois nem toda a imprensa é livre e objetiva e o dinheiro manda muito, principalmente na nossa pátria amada.
Há duas semanas mandei um e-mail para a revista Duas Rodas relatando tudo que escrevi aqui, pois se tivessem respondido colocaria seus argumentos. Infelizmente não obtive resposta nenhuma.
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Obrigado pela leitura. Até a próxima!
(favesi@gmail.com)
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