Prólogo...
Aparecida de Goiânia, interior de Goiás, praticamente uma extensão da Capital do Estado. População motociclística composta em sua grande maioria por GCs, YBRs, Twisters, Fazers e semelhantes. Scooters? Uma meia dúzia de Burgman 125, algumas Neos - a Neo é scooter, não cub - e uma o outra Lead.
Panorama viário muito diversificado: algumas ruas e avenidas parecem coisa de primeiro mundo de tão lisas e bem cuidadas, outras lembram as ruas empoeiradas das cidades dos filmes de faroeste norte-americanos da década de 80, outras ainda se assemelham ao cenário de uma cidade após um bombardeio de tão grandes as crateras no asfalto (principalmente em época de chuva).
É nesse cenário que a história acontece...
A história...
Como todos os dias, percorria com tranquilidade o caminho que separa as duas sedes da empresa onde trabalho; caminho que inclui um trecho do chamado “anel viário”, caracterizado por uma série de descidas e subidas que se repetem por alguns quilômetros.
O asfalto - vezes bom, vezes ruim - não perturbava muito as suspensões da minha Citycom, que demonstrou digerir bem a pavimentação irregular da pista.
Mantendo uma velocidade justa – mas acima dos limites permitidos pela lei em perímetros urbanos – me preparava para enfrentar a primeira das descidas, quando vejo no retrovisor um farol se aproximando rapidamente e com ar ameaçador. “Tudo bem” – pensei – “mais um desses complexados que não admitem a desonra da ultrapassagem e quer se vingar... Deixa pra lá”. E assim fiz: ele passou, lançou aquela olhada desafiadora e esgoelou a pobre Bros 150 na qual estava montado para abrir boa distância entre nós.
Eu continuei na minha, firme aos 95 km/h mesmo na descida. O fato é que ao iniciar a subida a Bros perdeu velocidade – como é normal por se tratar de uma 150 – enquanto eu abri um pouco mais o acelerador e continuei com os meus 90-95 km/h. Impressão minha ou não, juraria ter visto o piloto da Bros soltar fumaça pelos olhos quando passei por ele.
Centenas de metros depois mais uma descida e, de novo, o brilho do farol da Bros se aproximou a toda velocidade e mal tive tempo de ver a pequena enduro vermelha me ultrapassar. “Esse cara deve estar brincando” – pensei comigo, mas como estava sem pressa nenhuma deixei o racha de lado e apenas balancei a cabeça para os lados em sinal de desaprovação pela atitude do condutor da Honda.
Mais alguns metros, mais uma subida, mais uma vez o torque da Citycom me permitiu subir mantendo a velocidade sem problemas. Dessa vez o piloto da Bros nem sequer saiu da pista da esquerda, como para dizer “Jamais me ultrapassarás, ó seu infame cavaleiro! Quem és tu com esse cavalo bastardo para derrotar um puro-sangue legitimamente afro-japonês?!”.
Nada fiz, além de me deslocar par a pista da direita e ultrapassar de forma incorreta e punível pelo código brasileiro de trânsito, o que, aliás, aqui em Goiânia é de praxe pois todo mundo usa a pista da esquerda o tempo todo – até parece uma colônia Inglês –.
Pouco depois da última subida o momento do clímax: um semáforo vermelho! O homem da Bros chegou lá poucos segundos depois de mim e, obviamente, parou ao meu lado colocando a roda dianteira da sua moto quase perfeitamente alinhada com a minha, bem ao estilo “Velozes e furiosos”.
O sinal abriu e eu saí na frente mas... – música de suspense – ... o imprevisto: um maldito quebra molas bem na minha frente.
E aí meu irmão, não tem scooter que passe por ele ilesa. Tive que reduzir a velocidade para não causar estragos à minha querida Citycom.
Epílogo...
Ah como queria contar só coisas boas... Histórias em que a Citycom sempre vence e deixa todo mundo para trás... Mas infelizmente nem sempre os contos têm um final feliz.
E assim assisti impotente à Bros 150 passar pelo quebra mola veloz, com um salto ágil e indolor como se ela tivesse nascido para aquilo – sei bem a sensação que se prova ao saltar um quebra molas, pois na era “Falcon” já fiz isso muitas vezes... –.
Mas a Citycom é “bicho urbano” e não adianta exigir que se transforme numa faz-tudo.
Saboreei o gostinho da vingança minutos depois, quando começou a chover: pára brisa me protegendo, carenagens ao meu redor, pés ao reparo da água...
Imaginei o piloto da Bros 150 encharcado até a cueca... e gostei.
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Obrigado pela leitura! Até a próxima!
(favesi@gmail.com)
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